quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tucanos na Corda Bamba



O PSDB quer retornar ao poder e tem o líder das pesquisas na corrida pela sucessão, mas parece mais perdido que cego em tiroteio

Por Andrea Jubé e Carol Pires:

Numa quarta-feira de maio, dia nobre de votações, senadores do PSDB e do DEM, partidos de oposição ao governo, tumultuavam a discussão da medida provisória que capitalizou o Fundo Soberano, uma espécie de poupança pública no valor de R$ 14 bilhões. A oposição era contrária ao fundo e preparava-se naquela noite para vencer mais um round contra a matéria. Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, e José Agripino Maia (RN), do DEM, comandavam a obstrução. Do outro lado do ringue, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo Lula no Senado, guiava a base aliada na batalha da qual sairia derrotado.

Durante a peleja, enquanto outros senadores se revezavam na tribuna em longos discursos para atrasar a sessão, atrás do plenário, na sala do cafezinho, os adversários Virgílio, Jucá e Aloizio Mercadante (SP), líder do PT, estavam despojadamente aboletados em suas cadeiras, saboreando biscoitos de maisena e conversando amenidades."PSDB? Esse assunto é tão velho que está mais para samba-canção do que para rock'n'roll", caçoou Mercadante. Minutos depois, quando o petista deixou a roda, José Agripino aproximou-se. "Arthur, você está dando entrevista para a Rolling Stone? Mas você é mais velho que o Mick Jagger", provocou.

Do líder dos Stones, o assunto fluiu para a apresentadora Luciana Gimenez, que havia entrevistado o governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato tucano à Presidência da República. Logo os adversários esqueceram as diferenças políticas, entrando em acordo sobre as curvas e a beleza da mãe de Lucas Jagger.Apesar de hoje pertencerem a partidos diferentes, Virgílio, Agripino e Jucá têm mais em comum do que supõem os espectadores da TV Senado.

Jucá começou no ex-PFL (hoje DEM), passou pelo PSDB - do qual foi vice-presidente nacional e líder do governo Fernando Henrique Cardoso - até chegar ao PMDB. Agripino foi um dos fundadores do PFL em 1985 e nunca abandonou a legenda, que se transformou na principal aliada dos tucanos. Virgílio faz parte da turma de egressos do PMDB que deixou o partido para fundar o PSDB em 1988.

O PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira, nasceu da dissidência de um grupo de peemedebistas que começou a se sentir desconfortável com o crescente poder de correligionários nos diretórios regionais. O grupo formado pelos então senadores Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, pelo ex-governador Franco Montoro e pelos deputados José Serra e Arthur Virgílio, destacou-se pela formação intelectual e pelo ideário de centro-esquerda. Uma postura que se contrapôs aos líderes considerados direitistas que controlavam o partido em seus estados, e estão lá até hoje, como Orestes Quércia em São Paulo, Newton Cardoso em Minas Gerais e Iris Rezende em Goiás.

Hoje, o PSDB contabiliza oito anos no comando do poder federal. No Congresso Nacional, tem a segunda maior bancada de deputados federais com 58 parlamentares, a terceira bancada no Senado com 13 integrantes e o segundo maior número de prefeituras, com 788 cidades conquistadas em 2008, perdendo apenas para o PMDB.Depois de aumentar a ninhada, os tucanos de peito amarelo-bandeira lutam para driblar a natureza que lhes deu bico grande, asas curtas e vôo rasteiro para voar alto mais uma vez. O PSDB ainda amarga as duas derrotas consecutivas para o PT nas eleições de 2002, em que o governador José Serra perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva, e de 2006, em que o ex-governador Geraldo Alckmin saiu derrotado por Lula, que se reelegeu.

Desta vez, o PSDB precisa agir com cautela para não acabar como quem tinha dois pássaros na mão e ficou sem nenhum, depois que ambos voaram. O partido lançou-se na corrida presidencial com dois nomes competitivos, sendo que o governador de São Paulo, José Serra, mantém-se há meses na liderança absoluta de todas as pesquisas de opinião. Além disso, o partido convive com o espectro do terceiro mandato de Lula, que embora veementemente rechaçado pelo presidente da República, não deixa de assombrar os tucanos.

Você lê esta matéria na íntegra na edição 33, junho/2009

Nenhum comentário: